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Alergia a ovo: entenda quais tratamentos existem

Atualizado: há 3 dias

A alergia ao ovo é uma das comuns na infância e pode trazer limitações no dia dia. Felizmente, uma parcela significativa pode ter tolerância parcial aos assados e surgiram diversos tratamentos que trazem mais segurança e/ou qualidade de vida.
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Diagnóstico da Alergia ao Ovo


O diagnóstico envolve a avaliação da história clínica, associada aos exames laboratoriais e, quando indicado, teste de provocação oral (TPO). Um exame de IgE para ovo positivo, isolado (sem história clínica), não é suficiente para o diagnóstico e pode ser indicado TPO.


A alergia ao ovo do tipo IgE mediada costuma provocar sintomas rápidos, geralmente em minutos a até 2 horas após a ingestão ou exposição ao alimento e tipicamente dura algumas horas.

 

As reações variam de leves a graves e os sintomas podem envolver:

Pele e mucosas: urticária (manchas vermelhas e elevadas com coceira), angioedema (inchaço, especialmente em lábios, olhos ou face)

Sistema gastrointestinal: dor abdominal, náuseas, vômitos, diarreia

Sistema respiratório: coriza, espirros, tosse, chiado no peito (sibilância), dificuldade para respirar, sensação de aperto no peito ou na garganta

Sistema cardiovascular: tontura, desmaio, queda de pressão

Anafilaxia: reação sistêmica grave, que pode envolver mais de um orgão afetado


Os exames para alergia IgE mediada ao ovo incluem:

  • Teste cutâneo por puntura (prick test)

  • Dosagem de IgE específica para ovo no sangue (clara de ovo e gema de ovo)

  • IgE para componentes do ovo (Component-Resolved Diagnostics): ovomucoide (Gal d 1), ovalbumina (Gal d 2)


Além da alergia IgE mediada, pode haver outras formas de alergia ao ovo, como: FPIES, proctocolite alérgica, esofagite eosinofílica e dermatite atópica. Este texto foca nas informações sobre alergia ao ovo IgE mediada.


Reatividade cruzada na alergia ao ovo: há risco de alergia aos outros ovos?


A reatividade cruzada ocorre quando o sistema imunológico reconhece proteínas semelhantes presentes em alimentos diferentes, gerando uma resposta alérgica.

  • O ovo de galinha pode apresentar reatividade cruzada com ovos de outras aves (pato, codorna), por similaridade das proteínas. No entanto, a reatividade cruzada deve ser avaliada individualmente.

  • Ovos de peixe não estão relacionados e são seguros para alérgicos a ovo de galinha.

  • Raramente, o paciente pode ter alergia a uma proteína do ovo chamada livetina (Gal d 5), que pode causar a chamada síndrome ovo-ave. Nesses casos, ocorre reação não só a gema do ovo mas também com o consumo de carne de aves.


Prognóstico: a alergia ao ovo pode curar?


Felizmente, a alergia ao ovo apresenta um prognóstico favorável na maioria dos casos. Estudos mostram que grande parte das crianças desenvolve tolerância espontânea ("cura") ao longo da infância: cerca de 50% até os 5 anos de idade e até 70–80% durante a adolescência. Isso significa que muitos pacientes deixam de reagir ao alimento com o passar do tempo.


Crianças que apresentam níveis mais baixos de anticorpos IgE para ovo (especialmente ovomucoide) e/ou tem queda dos níveis ao longo do tempo têm maior chance de deixar de reagir ao alimento mais cedo.


O tipo de reação inicial também influencia: crianças que tiveram sintomas mais leves, como apenas urticária ou inchaço, geralmente têm um prognóstico melhor do que aquelas que tiveram reações graves.


Um dos sinais mais positivos é quando a criança consegue consumir ovo bem assado (como em bolos ou muffins) sem reação. Isso mostra não apenas uma forma de ampliar a dieta com segurança, mas também costuma estar associado a um processo mais rápido de tolerância ao ovo em formas menos cozidas, como mexido ou cozido.


Tratamento

A escolha do tratamento deve ser realizada de forma personalizada e por meio de um processo de decisão compartilhada em que avalia-se não só aspectos clínicos específicos do paciente (como idade, prognóstico e gravidade), mas também o estilo de vida, prioridades e valores. E nesse processo, médico, paciente e família trabalham juntos para escolher a melhor estratégia de cuidado.

Nessa estratégia de tratamento, o médico irá apresentar as possibilidades de tratamento, ponderando aspectos específicos do paciente, e apresentando os riscos e os benefícios. É importante que você possa expressar suas preocupações e quais as prioridades no tratamento que você está buscando, seja em medidas que possam trazer segurança, diversidade alimentar, impacto em qualidade de vida (questões emocionais e restrições sociais). A decisão será tomada em conjunto com base em todos esses aspectos.


Dieta de exclusão e plano de ação

Essa abordagem de tratamento é indicada inicialmente para todos os pacientes e envolve compreender como fazer restrição para trazer segurança e ter um plano de ação caso ocorra reação alérgica por contato acidental. Saiba mais sobre essa estratégia de tratamento aqui.


Alimentos com alerta de “pode conter traços de ovo” são muito comuns pelo risco de contato cruzado elevado, principalmente em linhas de produção compartilhadas. Discuta com seu médico sobre a necessidade de restrição de traços.


O impacto em qualidade de vida nessa estratégia terapêutica varia de cada paciente e potencialmente pode impactar mais quando há outras alergias ou restrições alimentares associadas, experiências prévias com reações graves, necessidade restrições rigorosas, especialmente em casos em que há reação com contato por quantidades pequenas e antecedente de quadros associados de depressão, ansiedade e seletividade alimentar.


Baked egg: por que alguns pacientes toleram ovo assado?

 

Uma parcela significativa dos pacientes com alergia ao ovo tolera formas assadas do alimento (como bolos ou muffins com ovo na receita). Isso ocorre porque o calor associado matriz de carboidrato presente em outros alimentos (como o trigo) modificam a estrutura tridimensional das proteínas do ovo.

 Essa modificação térmica pode reduzir a capacidade das proteínas de se ligarem aos anticorpos IgE, tornando-as menos alergênicas. Aproximadamente 60 a 80% das crianças com alergia ao ovo toleram o ovo em alimentos bem assados. Porém, existe uma parcela dos pacientes que não tolera e as reações aos assados podem ser graves e desencadear a anafilaxia. Dessa forma, não é indicado introduzir "baked egg" sem orientação médica, caso o paciente nunca tenha comido esse tipo de alimento.


Baked Egg: papel terapêutico

 

O primeiro passo para avaliar se o "baked egg" pode ser uma estratégia de tratamento é uma avaliação clínica cautelosa associado a interpretação de exames de IgE específica para estratificar a probabilidade de tolerância parcial aos assados. Após a avaliação, pode ser indicado um teste de provocação oral para avaliar se o paciente tolera o "baked".


Além de aumentar a variedade alimentar e melhorar a qualidade de vida, a introdução gradual e segura de alimentos com ovo assado pode acelerar a resolução da alergia. Estudos mostram que crianças que consomem regularmente ovo assado podem desenvolver tolerância ao ovo menos processado (como omelete ou ovo cozido) mais rapidamente do que aquelas em dieta de exclusão total.

 

Esse processo deve sempre ser conduzido por um alergista, após avaliação criteriosa e iniciando com teste de provocação oral supervisionado (TPO) para avaliar se paciente tolera esse tipo de alimento. As etapas desse tratamento vão variar em relação a quantidade de proteína de ovo, a forma de aquecimento e a proporção de proteína/matriz de carboidrato. Nunca faça a introdução em casa sem orientação médica.


Imunoterapia para alergia ao ovo

A imunoterapia para ovo é uma das estratégia que visa melhorar qualidade de vida quando a alergia ao ovo impacta em questões psico-emocionais e restrições sociais. Nessa abordagem, pequenas quantidades de ovo são administradas e aumentadas progressivamente sob supervisão médica, com o objetivo de induzir dessensibilização, aumentar a segurança frente a exposições acidentais e em protocolos de alta dose possibilita consumo deste alimento. Entenda aqui sobre esse tratamento. Um dos principais pontos importantes na decisão de se fazer imunoterapia ou não e qual via fazer está relacionada a quais são as prioridades do paciente e sua família: segurança, diversidade alimentar e impacto em qualidade de vida.


Imunobiológico

Um dos tratamentos medicamentoso estudados para tratamento de alergia alimentar tem como alvo a imunoglobulina E (IgE) que é importante para desencadear a reação na alergia alimentar. Um estudo de 2024 publicado na New England Journal of Medicine mostrou que uso de essa medicação aumentou o limiar de reação em uma parcela significativa de pacientes com alergia alimentar, ou seja, aumentou a quantidade mínima de proteína alimentar que desencadeia reação alérgica. Isso permite que pacientes tenham mais segurança, reduzindo o risco de reação alérgica em contato acidental com quantidades pequenas. Além disso uso, essa medicação pode ser usada em conjunto com a imunoterapia oral, reduzindo o risco de reação alérgica.


Passos importantes

  1. Diagnóstico preciso

  2. Tratamento individualizado.

    Para a escolha do tratamento, é necessário avaliar aspectos clínicos das opções de tratamento possíveis e é necessário a seguinte reflexão:

    - Você procura melhorar a segurança e diminuir risco de reações graves?

    - A alergia ao ovo está impactando em qualidade de vida?

    - Por que a alergia ao ovo está impactando em qualidade de vida?

         - Restrição ao ovo limita questões sociais (ir festa de aniversário, viagem, restaurantes)?

         - Essa restrição está impactando em questões psico-emocionais?

    - Você procura aumentar o limiar de reação para que o contato com quantidades pequenas não cause reações alérgicas?

    - Você ou seu filho tem desejo de consumir alimentos que contenha ovo?


Encontre o melhor caminho para tratar a sua alergia.

Não há um tratamento que seja o melhor para todos os pacientes. Com a auxílio de um alergista com expertise na área e que possa acolher e compreender as suas prioridades, é possível viver com muito mais segurança, liberdade e qualidade de vida.


Se você tem alergia ao ovo e deseja avaliar a possibilidade de tratamento, agende sua consulta aqui.

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Sobre a autora

Dra Claudia Leiko Yonekura Anagusko
CRM-SP: 163184, RQE 75918

É médica alergista, colaboradora do ambulatório de esofagite eosinofílica, dermatite atópica e alergia alimentar do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP

Possui pesquisa na área de esofagite eosinofílica, alergia alimentar e imunoterapia oral para alergia alimentar.

Autora do capítulo Imunoterapia oral e risco de EoE, do livro Esofagite Eosinofílica, série Alergia e Imunologia - ASBAI. ​​

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