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Saiba tudo sobre tratamento da alergia alimentar

Atualizado: 24 de fev.


 Fez o diagnóstico de alergia alimentar e não sabe o que fazer a partir de agora? Tratar alergia alimentar não é apenas não comer, vai muito além! A alergia alimentar pode trazer insegurança, medo, ansiedade e restrição social. O tratamento individualizado e sensível as necessidades do alérgico e sua família é fundamental para trazer segurança e qualidade de vida. 

*AA = alergia alimentar
*AA = alergia alimentar

O tratamento da alergia alimentar deve ser individualizado, de acordo com o alimento envolvido, idade, gravidade, chance de tolerância, impacto social e emocional, estilo de vida, preferências e valores do paciente e sua família. Um alergista com expertise em alergia alimentar ajudará encontrar o melhor caminho a ser seguido. Temos diversas estratégias de tratamento que podem ser avaliadas caso a caso:


1.     Exclusão alimentar

 

2.     Plano de ação

O contato acidental com o alimento que causa alergia pode ocorrer, especialmente se ele é comum na alimentação (exemplo: leite, ovo, trigo). No caso da alergia IgE mediada, as reações são potencialmente graves com risco de vida, e tratar rapidamente diminui a chance de progressão. Por isso, é fundamental ter um plano de ação, que consiste nas medidas que devem ser tomadas em caso de reação. Quando há risco de contato acidental, é necessário ter sempre ao alcance rápido suas medicações do plano de ação. Para casos com risco de anafilaxia, é necessário ter adrenalina auto injetável ou nasal, que é uma medicação que salva vidas!

O treinamento do plano de ação deve envolver o paciente e as pessoas de convívio próximo, como familiares, funcionários da escola.

 

3.     Suporte nutricional

O suporte nutricional é especialmente importante quando há restrição múltipla ou para alimentos importantes do ponto de vista nutricional e social. Um dos aspectos importantes a ser avaliado na alergia ao leite, por exemplo, é a ingesta de cálcio e necessidade de suplementação. Além disso, por ser um alimento muito comum no dia dia, é importante proporcionar o acesso a receitas inclusivas, que possam minimizar o impacto social e psicológico. `

4.     Suporte psicológico 

A alergia alimentar pode trazer uma série de dificuldades no dia dia, especialmente em pessoas com alergia a alimentos comuns, múltiplos alimentos e pessoas que já tiveram experiência de reação alérgica muito grave ou com contato cruzado. Cada pessoa lida com essas dificuldades de forma diferente e pode ser indicado acompanhamento psicológico e/ou psiquiátrico. É importante ficar atento no desenvolvimento de ansiedade, depressão, transtorno de estresse pós traumático e fobias ou seletividade alimentar.

 

5.     Seguimento da alergia alimentar

Uma parcela significativa dos pacientes pode evoluir com tolerância (“cura da alergia”) com o tempo. Essa evolução depende de uma série de fatores como o alimento envolvido, tipo de alergia alimentar, idade e marcadores prognósticos como o valor de IgE específica. Para pacientes com sinais de tolerância, pode ser indicado o teste de provocação oral (TPO). Esse teste permite que o paciente seja liberado a consumir o alimento de forma segura, caso o resultado do teste seja negativo. 

 

6.     Tratamentos ativos para alergia alimentar: o “baked” e a “dessensibilização”

A depender do caso, pode ser indicado tratamentos ativos, em que há modulação do sistema imunológico para estimular mecanismos de tolerância.

Uma das opções para alérgicos a leite e ovo é o o consumo regular de leite/ovo assado (“baked”), para aqueles que consegue tolerar esse alimento sem reação (na maioria das vezes, é liberado consumo após o teste de provocação oral). Na evolução dessas alergias, a tolerância para alimentos assados pode ocorrer antes da tolerância para a forma crua. O aquecimento altera a conformação da proteína (epítopos conformacionais), de modo que os anticorpos IgE podem não mais se ligar e não desencadear reação. A interação de proteínas alimentares entre si (como a do leite e ovo com a matriz de trigo também diminui a alergenicidade. Atenção: este tratamento deve ser indicado pelo médico alergista e esses alimentos não devem ser consumidos sem orientação médica e teste de provocação oral. Uma parcela dos pacientes pode ter reação com alimentos assados e é necessário uma avaliação cautelosa sobre a indicação deste tratamento.

Uma outra estratégia de tratamento é a "dessensibilização", ou imunoterapia alérgeno específica para alergia alimentar. Esse tratamento tem como objetivo aumentar o limiar de reação. O grande benefício da imunoterapia é melhorar qualidade de vida, muitas vezes permitindo viver com menos medo, insegurança e ansiedade em momentos como um encontro de família, uma festa de aniversário ou uma viagem. Veja mais sobre o assunto no post:Dessensibilização ou imunoterapia para alergia alimentar: um tratamento transformador

 

7.     Omalizumab 

O Omalizumab é uma medicação que tem como alvo a imunoglobulina E (IgE) que é importante para desencadear a reação na alergia alimentar. Um estudo de 2024 publicado na New England Journal of Medicine mostrou que uso de omalizumab aumentou o limiar de reação em uma parcela significativa de pacientes com alergia alimentar, ou seja, aumentou a quantidade mínima de proteína alimentar que desencadeia reação alérgica. Isso permite que pacientes tenham mais segurança, reduzindo o risco de reação alérgica em contato acidental com quantidades pequenas. Além desso uso, o omalizumab pode ser usada em conjunto com a imunoterapia oral, reduzindo o risco de reação alérgica.


Referências

Santos AF, Riggioni C, Agache I, Akdis CA, Akdis M, Alvarez-Perea A, Alvaro-Lozano M, Ballmer-Weber B, Barni S, Beyer K, Bindslev-Jensen C, Brough HA, Buyuktiryaki B, Chu D, Del Giacco S, Dunn-Galvin A, Eberlein B, Ebisawa M, Eigenmann P, Eiwegger T, Feeney M, Fernandez-Rivas M, Fiocchi A, Fisher HR, Fleischer DM, Giovannini M, Gray C, Hoffmann-Sommergruber K, Halken S, O'B Hourihane J, Jones CJ, Jutel M, Knol EF, Konstantinou GN, Lack G, Lau S, Mejias AM, Marchisotto MJ, Meyer R, Mortz CG, Moya B, Muraro A, Nilsson C, de Oliveira LCL, O'Mahony L, Papadopoulos NG, Perrett KP, Peters R, Podesta M, Poulsen LK, Roberts G, Sampson H, Schwarze J, Smith P, Tham E, Untersmayr E, Van Ree R, Venter C, Vickery B, Vlieg-Boerstra B, Werfel T, Worm M, Du Toit G, Skypala I. EAACI guidelines on the management of IgE-mediated food allergy. Allergy. 2025 Jan;80(1):14-36. doi: 10.1111/all.16345. Epub 2024 Oct 30. PMID: 39473345; PMCID: PMC11724237.

 

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Sobre a autora

Dra Claudia Leiko Yonekura Anagusko
CRM-SP: 163184, RQE 75918

É médica alergista, colaboradora do ambulatório de esofagite eosinofílica, dermatite atópica e alergia alimentar do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP

Possui pesquisa na área de esofagite eosinofílica, alergia alimentar e imunoterapia oral para alergia alimentar.

Autora do capítulo Imunoterapia oral e risco de EoE, do livro Esofagite Eosinofílica, série Alergia e Imunologia - ASBAI. ​​

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