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Dessensibilização ou imunoterapia para alergia alimentar

Atualizado: há 5 dias

A alergia alimentar restringe o seu convívio social? Festas de aniversários e o encontros de família são momentos difíceis para você? Você fica ansioso e como medo de ter uma reação alérgica toda vez que você vai a um restaurante novo? Já deixou de viajar ou ir para algum lugar porque teve medo de não ter alimentos seguros ou dificuldade de acesso a assistência médica? Confira o que é e para quem está indicado esse tratamento para alergia alimentar.


VIAS DA IMUNOTERAPIA
VIAS DA IMUNOTERAPIA

O que é a imunoterapia para alergia alimentar?

A imunoterapia consiste na exposição repetida de doses crescentes do alérgeno (alimento que causa a alergia) em intervalos regulares com o objetivo de modular a resposta imune para aumentar a quantidade de alimento que o paciente consegue tolerar, prevenindo sintomas de alérgicos e reduzindo o risco de reações graves. Essa modulação do sistema imune pode induzir dessensibilização e possivelmente tolerância.

Geralmente, temos uma fase de indução em que é realizado aumento da dose do alimento e uma fase de manutenção, em que é realizado a manutenção de uma dose alvo fixa.


Fase de indução e manutenção (fonte: Immunoglobulin E (IgE)-Mediated Food Allergy in Children: Epidemiology, Pathogenesis, Diagnosis, Prevention, and Management)
Fase de indução e manutenção (fonte: Immunoglobulin E (IgE)-Mediated Food Allergy in Children: Epidemiology, Pathogenesis, Diagnosis, Prevention, and Management)

Quais os benefícios e para quem está indicado?

A imunoterapia para alergia alimentar pode ser uma grande aliada para famílias que vivem com o medo constante de uma reação alérgica. Ela consiste em expor o corpo, de forma controlada e segura, a pequenas quantidades do alimento que causa alergia, ajudando o organismo a ficar menos sensível com o tempo. Isso pode significar mais proteção contra acidentes, mais segurança nas atividades do dia a dia e, dependendo do paciente e do protocolo, a possibilidade de voltar a consumir o alimento. A indicação é especialmente importante para pessoas com alergias alimentares IgE mediadas persistentes que atrapalham a rotina, geram ansiedade ou obrigam a família a viver em alerta permanente. Com acompanhamento especializado, planejamento adequado e um protocolo feito sob medida, a imunoterapia pode transformar a relação do paciente com o alimento e trazer uma qualidade de vida muito maior para toda a família.

Quais as vias?

A principal via para imunoterapia é a oral, em que o paciente ingere o alérgeno. Além da via oral, temos a via sublingual e a via epicutânea (Viaskin, não disponível no Brasil). Cada tipo de imunoterapia, tem seus objetivos e perfil de eficácia e segurança.


Quais os riscos?

O principal risco da imunoterapia é reação alérgica, já que envolve o contato com o que a pessoa tem alergia. Esse risco varia com fatores do paciente (gravidade/limiar de reação, idade, presença de outras doenças associadas como asma e esofagite eosinofílica), fatores relacionados a imunoterapia (fase de indução x manutenção, via, protocolo de baixa dose x alta dose). A maioria das reações alérgicas são leves, porém reações graves podem ocorrer. A maior chance de reação ocorre no aumento de dose, por isso, deve ser realizada sob supervisão do alergista.

A via sublingual e epicutânea são as formas de tratamento com menor risco, porém a via epicutânea não permite consumo do alimento e na via sublingual pode ser liberado ou não consumo do alimento.

Medidas para melhorar segurança do tratamento: aumento de doses realizado em ambiente supervisionado por médico alergista com experiência e com estrutura disponível para tratar anafilaxia, treinamento do plano de ação (e porte das medicações, inclusive adrenalina auto injetável/nasal) e medicações que ajudam a diminuir risco de reação, como omalizumab.

Além do risco de reação alérgica, pacientes submetidos a imunoterapia podem desenvolver uma doença chamada esofagite eosinofílica (EoE). Caso o paciente evolua com essa inflamação no esôfago, o médico irá avaliar junto com o paciente a suspensão da imunoterapia ou a manutenção com tratamento medicamentoso da EoE.


Quando fazer? Existe idade mínima ou máxima?

O melhor momento para iniciar a imunoterapia alimentar depende das características clínicas de cada paciente e também dos valores e prioridades da família, mas sabemos hoje que começar mais cedo pode trazer benefícios importantes. Nos primeiros anos de vida, o sistema imunológico é mais flexível — um fenômeno chamado “plasticidade imunológica” — e tende a responder melhor ao tratamento, aumentando as chances de a criança desenvolver proteção duradoura e, em alguns casos, até deixar de ter a alergia. Ao mesmo tempo, é fundamental considerar que algumas alergias, como as de leite e ovo, podem desaparecer naturalmente com o crescimento, fenômeno conhecido como tolerância espontânea. Por isso, a decisão de iniciar ou não a imunoterapia deve levar em conta essa possibilidade de cura sem tratamento, avaliando o alimento envolvido e também características clínicas e laboratoriais do paciente.

Apesar dos benefícios do tratamento precoce, crianças maiores, adolescentes e adultos também podem se beneficiar muito da imunoterapia: o tratamento pode aumentar o limiar de reação, reduzir o risco de acidentes e melhorar de forma importante a qualidade de vida. O mais importante é avaliar cada caso com cuidado e, junto com o médico, definir qual é o momento ideal para iniciar o tratamento, considerando a história clínica, os objetivos da família e a rotina de cada paciente.


Onde fazer?

A imunoterapia deve ser feita por um médico alergista com expertise na área em uma local com estrutura segura para tratamento de anafilaxia. O tratamento é altamente complexo e a decisão deve ser individualizada e sensível às preferências, construída por meio da decisão compartilhada, garante que a escolha final reflita os objetivos, os limites, a rotina e o nível de tolerância ao risco de cada família.

A imunoterapia oferece benefícios importantes, como a melhora da qualidade de vida e o aumento da segurança frente a exposições acidentais, mas também envolve riscos, como anafilaxia e esofagite eosinofílica. Por isso, a decisão de iniciar o tratamento deve considerar cuidadosamente os valores, preferências e expectativas de cada família. O processo de decisão compartilhada é central nesse contexto: nele, paciente, responsáveis e equipe médica conversam de forma aberta e bidirecional sobre os objetivos do tratamento, as evidências de eficácia, os possíveis riscos e os aspectos logísticos, incluindo o esquema de doses, a rotina diária e a necessidade de visitas frequentes para escalonamento supervisionado. Esse diálogo permite que a família esclareça suas prioridades — seja proteção contra traços, possibilidade de ingestão livre ou redução da ansiedade —, compreenda alternativas e avalie se os benefícios superam os potenciais efeitos adversos.


Caso haja interesse nessa modalidade de tratamento entre em contato conosco, temos ampla experiência no tratamento de casos graves e complexos.


Caso queira entender sobre outras modalidades de tratamento temos um conteúdo sobre esse assunto:


Referências

Santos AF, Riggioni C, Agache I, Akdis CA, Akdis M, Alvarez-Perea A, Alvaro-Lozano M, Ballmer-Weber B, Barni S, Beyer K, Bindslev-Jensen C, Brough HA, Buyuktiryaki B, Chu D, Del Giacco S, Dunn-Galvin A, Eberlein B, Ebisawa M, Eigenmann P, Eiwegger T, Feeney M, Fernandez-Rivas M, Fiocchi A, Fisher HR, Fleischer DM, Giovannini M, Gray C, Hoffmann-Sommergruber K, Halken S, O'B Hourihane J, Jones CJ, Jutel M, Knol EF, Konstantinou GN, Lack G, Lau S, Mejias AM, Marchisotto MJ, Meyer R, Mortz CG, Moya B, Muraro A, Nilsson C, de Oliveira LCL, O'Mahony L, Papadopoulos NG, Perrett KP, Peters R, Podesta M, Poulsen LK, Roberts G, Sampson H, Schwarze J, Smith P, Tham E, Untersmayr E, Van Ree R, Venter C, Vickery B, Vlieg-Boerstra B, Werfel T, Worm M, Du Toit G, Skypala I. EAACI guidelines on the management of IgE-mediated food allergy. Allergy. 2025 Jan;80(1):14-36. doi: 10.1111/all.16345. Epub 2024 Oct 30. PMID: 39473345; PMCID: PMC11724237.

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Sobre a autora

Dra Claudia Leiko Yonekura Anagusko
CRM-SP: 163184, RQE 75918

É médica alergista, colaboradora do ambulatório de esofagite eosinofílica, dermatite atópica e alergia alimentar do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP

Possui pesquisa na área de esofagite eosinofílica, alergia alimentar e imunoterapia oral para alergia alimentar.

Autora do capítulo Imunoterapia oral e risco de EoE, do livro Esofagite Eosinofílica, série Alergia e Imunologia - ASBAI. ​​

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