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Dessensibilização ou imunoterapia para alergia alimentar

Atualizado: 23 de fev.

A alergia alimentar restringe o seu convívio social? Festas de aniversários e o encontros de família são momentos difíceis para você? Você fica ansioso e como medo de ter uma reação alérgica toda vez que você vai a um restaurante novo? Já deixou de viajar ou ir para algum lugar porque teve medo de não ter alimentos seguros ou dificuldade de acesso a assistência médica? Confira o que é e para quem está indicado esse tratamento para alergia alimentar.


VIAS DA IMUNOTERAPIA
VIAS DA IMUNOTERAPIA

O que é a imunoterapia para alergia alimentar?

A imunoterapia consiste na exposição repetida de doses crescentes do alérgeno (alimento que causa a alergia) em intervalos regulares com o objetivo de modular a resposta imune para aumentar a quantidade de alimento que o paciente consegue tolerar, prevenindo sintomas de alérgicos e reduzindo o risco de reações graves. Essa modulação do sistema imune pode induzir dessensibilização e possivelmente tolerância.

Geralmente, temos uma fase de indução em que é realizado aumento da dose do alimento e uma fase de manutenção, em que é realizado a manutenção de uma dose alvo fixa.


Fase de indução e manutenção (fonte: Immunoglobulin E (IgE)-Mediated Food Allergy in Children: Epidemiology, Pathogenesis, Diagnosis, Prevention, and Management)
Fase de indução e manutenção (fonte: Immunoglobulin E (IgE)-Mediated Food Allergy in Children: Epidemiology, Pathogenesis, Diagnosis, Prevention, and Management)

Quais os benefícios e para que serve a imunoterapia para alergia alimentar?

A imunoterapia para alergia alimentar tem como objetivo principal melhorar qualidade de vida de pacientes que sofrem com a alergia alimentar. É um tratamento que visa permitir que o alérgico viva com menos medo, ansiedade e maior liberdade nas escolhas de momentos sociais que envolve o comer.

O grau de dessensibilização depende da via de aplicação e do protocolo utilizado. Na imunoterapia epicutânea, imunoterapia sublingual e oral de baixa dose, o tratamento reduz risco de reação caso haja exposição acidental de pequenas quantidades. Nessa forma de tratamento, não está liberado o consumo, mas permite maior segurança ao alérgico. Já outros protocolos com dose maiores, pode permitir o consumo do alimento, permitindo maior liberdade e variedade da dieta.


Para quem está indicado?

Essa modalidade de tratamento está indicada para pacientes com alergia alimentar IgE mediada, em que as medidas de exclusão alimentar são ineficazes, indesejadas ou causam limitação grave na qualidade de vida. Os alimentos mais estudados são leite, ovo e amendoim, porém é possível realizar para diversos outros alimentos.

O processo de decisão compartilhada auxilia a encontrar o melhor caminho. Na avaliação da indicação da imunoterapia, o médico deve informar riscos, benefícios, mudanças na rotina do paciente e deve compreender estilo de vida, valores e preferências do paciente e sua família. A escolha deve ser centrada no paciente e sua família, pois cada paciente é único. Encontre um alergista com expertise na área para discutir e tomar a melhor decisão. c


Quais as vias?

A principal via para imunoterapia é a oral, em que o paciente ingere o alérgeno e é a via mais eficaz para aumentar o limiar de reação.

Além da via oral, temos a via sublingual e a via epicutânea (Viaskin, não disponível no Brasil). De forma geral, nessas vias a quantidade de alérgeno é pequena.


Quais os riscos?

O principal risco da imunoterapia é reação alérgica, já que envolve o contato com o que a pessoa tem alergia. Esse risco varia com fatores do paciente (gravidade/limiar de reação, idade, presença de outras doenças associadas como asma e esofagite eosinofílica), fatores relacionados a imunoterapia (fase de indução x manutenção, via, protocolo de baixa dose x alta dose). A maioria das reações alérgicas são leves, porém reações graves podem ocorrer. A maior chance de reação ocorre no aumento de dose, por isso, deve ser realizada sob supervisão do alergista.

A via sublingual e epicutânea são as formas de tratamento com menor risco, porém a via epicutânea não permite consumo do alimento e na via sublingual pode ser liberado ou não consumo do alimento.

Medidas para melhorar segurança do tratamento: aumento de doses realizado em ambiente supervisionado por médico alergista com experiência e com estrutura disponível para tratar anafilaxia, treinamento do plano de ação (e porte das medicações, inclusive adrenalina auto injetável/nasal) e medicações que ajudam a diminuir risco de reação, como omalizumab.

Além do risco de reação alérgica, pacientes submetidos a imunoterapia podem desenvolver uma doença chamada esofagite eosinofílica (EoE). Caso o paciente evolua com essa inflamação no esôfago, o médico irá avaliar junto com o paciente a suspensão da imunoterapia ou a manutenção com tratamento medicamentoso da EoE.


Onde fazer?

A imunoterapia deve ser feita por um médico alergista com expertise na área pois é um tratamento altamente complexo. Caso haja interesse nessa modalidade de tratamento entre em contato conosco, temos ampla experiência no tratamento de casos graves e complexos.



Referências

Santos AF, Riggioni C, Agache I, Akdis CA, Akdis M, Alvarez-Perea A, Alvaro-Lozano M, Ballmer-Weber B, Barni S, Beyer K, Bindslev-Jensen C, Brough HA, Buyuktiryaki B, Chu D, Del Giacco S, Dunn-Galvin A, Eberlein B, Ebisawa M, Eigenmann P, Eiwegger T, Feeney M, Fernandez-Rivas M, Fiocchi A, Fisher HR, Fleischer DM, Giovannini M, Gray C, Hoffmann-Sommergruber K, Halken S, O'B Hourihane J, Jones CJ, Jutel M, Knol EF, Konstantinou GN, Lack G, Lau S, Mejias AM, Marchisotto MJ, Meyer R, Mortz CG, Moya B, Muraro A, Nilsson C, de Oliveira LCL, O'Mahony L, Papadopoulos NG, Perrett KP, Peters R, Podesta M, Poulsen LK, Roberts G, Sampson H, Schwarze J, Smith P, Tham E, Untersmayr E, Van Ree R, Venter C, Vickery B, Vlieg-Boerstra B, Werfel T, Worm M, Du Toit G, Skypala I. EAACI guidelines on the management of IgE-mediated food allergy. Allergy. 2025 Jan;80(1):14-36. doi: 10.1111/all.16345. Epub 2024 Oct 30. PMID: 39473345; PMCID: PMC11724237.

Dantzer JA, Kim EH. New Approaches to Food Allergy Immunotherapy. J Allergy Clin Immunol Pract. 2024 Mar;12(3):546-552. doi: 10.1016/j.jaip.2023.10.018. Epub 2023 Oct 16. PMID: 37852441.




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Sobre a autora

Dra Claudia Leiko Yonekura Anagusko
CRM-SP: 163184, RQE 75918

É médica alergista, colaboradora do ambulatório de esofagite eosinofílica, dermatite atópica e alergia alimentar do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP

Possui pesquisa na área de esofagite eosinofílica, alergia alimentar e imunoterapia oral para alergia alimentar.

Autora do capítulo Imunoterapia oral e risco de EoE, do livro Esofagite Eosinofílica, série Alergia e Imunologia - ASBAI. ​​

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