Alergia a amendoim: diagnóstico, prognóstico e tratamento
- Dra Claudia Leiko
- 1 de ago.
- 5 min de leitura
A alergia ao amendoim é uma das formas mais comuns e potencialmente graves de alergia alimentar. O tratamento da alergia ao amendoim avançou muito nos últimos anos e deve ser individualizado e sensível as necessidades do alérgico e sua família, trazendo segurança e qualidade de vida.
Diagnóstico da Alergia ao Amendoim
O diagnóstico envolve a avaliação da história clínica, associada aos exames laboratoriais e, quando indicado, teste de provocação oral (TPO). Um exame de IgE para amendoim positivo, isolado (sem história clínica), não é suficiente para o diagnóstico e pode ser indicado TPO.
A alergia ao amendoim do tipo IgE mediada costuma provocar sintomas rápidos, geralmente em minutos a até 2 horas após a ingestão ou exposição ao alimento e tipicamente dura algumas horas.
As reações variam de leves a graves e os sintomas podem envolver:
Pele e mucosas: urticária (manchas vermelhas e elevadas com coceira), angioedema (inchaço, especialmente em lábios, olhos ou face)
Sistema gastrointestinal: dor abdominal, náuseas, vômitos, diarreia
Sistema respiratório: coriza, espirros, tosse, chiado no peito (sibilância), dificuldade para respirar, sensação de aperto no peito ou na garganta
Sistema cardiovascular: tontura, desmaio, queda de pressão
Anafilaxia: reação sistêmica grave, que pode envolver mais de um orgão afetado
Os exames incluem:
Teste cutâneo por puntura (prick test)
Dosagem de IgE específica para amendoim no sangue
IgE para componentes do amendoim (Component-Resolved Diagnostics): Ara h 1, Ara h 2, Ara h3, Ara h 8, Ara h 9. O Ara h 2 é um marcador associado a reações sistêmicas.
Prognóstico: alergia ao amendoim pode curar?
Ao contrário de alergias como a de leite ou ovo, a alergia ao amendoim tende a persistir na vida adulta. Estudos mostram que:
Apenas cerca de 20% das crianças com diagnóstico confirmado desenvolvem tolerância espontânea ao longo dos anos.
Os fatores associados a maior chance de resolução incluem:
Baixos níveis de IgE específica
Reações leves
Diagnóstico em idade precoce
Por outro lado, a presença de Ara h 2 positivo, histórico de anafilaxia e níveis elevados de IgE estão associados a maior chance de persistência.
Reatividade Cruzada: quem tem alergia a amendoim pode comer castanhas?
A reatividade cruzada ocorre quando o sistema imunológico reconhece proteínas semelhantes presentes em alimentos diferentes, gerando uma resposta alérgica.
No caso do amendoim, que é uma leguminosa (e não uma oleaginosa), a reatividade cruzada pode acontecer com outros alimentos da mesma família ou com proteínas estruturalmente semelhantes.
Na avaliação de reatividade cruzada, é importante ficar claro alguns conceitos:
Apesar de haver similaridade entre algumas proteínas do amendoim com outras castanhas e leguminosas, a maioria dos pacientes são alérgicos a apenas ao amendoim.
A reatividade laboratorial (ter IgE específica para uma castanha positiva) não significa necessariamente que o paciente terá reação alérgica a essa castanha. Nessa situação, alguns testes adicionais podem ser necessários, como a avaliação de componentes (auxilia avaliar risco de reatividade cruzada) e teste de provocação oral.
A avaliação individualizada com história clínica, IgE específica e teste de provocação oral é essencial para evitar restrições desnecessárias.
Se você consome alimentos que possivelmente tem risco de reatividade cruzada (considerando quantidades e consumo posterior ao desenvolvimento da alergia), mas não tem reação, mantenha consumo!
Leguminosas:
Apesar de o amendoim pertencer à mesma família do feijão, ervilha, lentilha, tremoço e soja, a reatividade cruzada CLÍNICA com esses alimentos é INCOMUM (menos de 5-10%). Ou seja, embora testes possam mostrar sensibilização, a maioria dos pacientes com alergia a amendoim tolera bem outras leguminosas.
Castanhas:
Apesar de até 50% dos pacientes com alergia ao amendoim têm sensibilização a alguma castanha (IgE específica positiva para castanha), a alergia clínica verdadeira ocorre em apenas cerca de 30% dos casos.
Gergelim
Apenas cerca de 10-15% dos pacientes com alergia a amendoim vão ter alergia a gergelim.
Tratamento
A escolha do tratamento deve ser realizada de forma personalizada e por meio de um processo de decisão compartilhada em que avalia-se não só aspectos clínicos específicos do paciente (como idade, prognóstico e gravidade), mas também o estilo de vida, prioridades e valores. E nesse processo, médico, paciente e família trabalham juntos para escolher a melhor estratégia de cuidado.
Nessa estratégia de tratamento, o médico irá apresentar as possibilidades de tratamento, ponderando aspectos específicos do paciente, e apresentando os riscos e os benefícios. É importante que você possa expressar suas preocupações e quais as prioridades no tratamento que você está buscando, seja em medidas que possam trazer segurança, diversidade alimentar, impacto em qualidade de vida (questões emocionais e restrições sociais). A decisão será tomada em conjunto com base em todos esses aspectos.
Dieta de exclusão e plano de ação
Essa abordagem de tratamento é indicada inicialmente para todos os pacientes e envolve compreender como fazer restrição para trazer segurança e ter um plano de ação caso ocorra reação alérgica por contato acidental.
Fique atentos a alimentos como:
Chocolates, bombons, balas
Barras de cereal e granolas
Produtos de panificação (biscoitos, bolos)
Sorvetes e sobremesas prontas
Molhos orientais e pastas
Alimentos com alerta de “pode conter traços de amendoim” são muito comuns pelo risco de contato cruzado elevado, principalmente em linhas de produção compartilhadas. Discuta com seu médico sobre a necessidade de restrição de traços.
Saiba mais sobre essa estratégia de tratamento aqui.
O impacto em qualidade de vida nessa estratégia terapêutica varia de cada paciente e potencialmente pode impactar mais quando há outras alergias ou restrições alimentares associadas, experiências prévias com reações graves, necessidade restrições rigorosas, especialmente em casos em que há reação com contato por quantidades pequenas e antecedente de quadros associados de depressão, ansiedade e seletividade alimentar.
Imunoterapia para alergia ao amendoim
A imunoterapia oral é uma das estratégia que visa melhorar qualidade de vida quando a alergia ao amendoim impacta em questões psico-emocionais e restrições sociais. Entenda aqui sobre esse tratamento. Um dos principais pontos importantes na decisão de se fazer imunoterapia ou não e qual via fazer está relacionada a quais são as prioridades do paciente e sua família: segurança, diversidade alimentar e impacto em qualidade de vida.
O amendoim é especialmente um dos alimentos mais estudados para imunoterapia. Temos diversos estudos científicos em imunoterapia oral, sublingual e epicutanea. Além disso, é um dos alimentos mais estudados em imunoterapia precoce (antes dos 5 anos), já que acredita-se que o sistema imunológico é mais plástico e adaptável em crianças pequenas do que em crianças mais velhas e adultas com potencial de maior taxa de dessensibilização e de tolerância sustentada (paciente consome um alimento alergênico sem reações, mesmo com a interrupção da imunoterapia).
Imunobiológico
Um dos tratamentos medicamentoso estudados para tratamento de alergia alimentar tem como alvo a imunoglobulina E (IgE) que é importante para desencadear a reação na alergia alimentar. Um estudo de 2024 publicado na New England Journal of Medicine mostrou que uso de essa medicação aumentou o limiar de reação em uma parcela significativa de pacientes com alergia alimentar, ou seja, aumentou a quantidade mínima de proteína alimentar que desencadeia reação alérgica. Isso permite que pacientes tenham mais segurança, reduzindo o risco de reação alérgica em contato acidental com quantidades pequenas. Além disso uso, essa medicação pode ser usada em conjunto com a imunoterapia oral, reduzindo o risco de reação alérgica.
Passos importantes
Diagnóstico preciso
Avaliação de reatividade cruzada: entenda se há necessidade ou não de exclusão de outros alimentos
Tratamento individualizado.
Para a escolha do tratamento, reflita:
- Você procura melhorar a segurança e diminuir risco de reações graves?
- A alergia a amendoim está impactando em qualidade de vida?
- Por que a alergia a amendoim está impactando em qualidade de vida?
- Restrição ao amendoim limita questões sociais (ir festa de aniversário, viagem, restaurantes)?
- Essa restrição está impactando em questões psico-emocionais?
- Você procura aumentar o limiar de reação para que o contato com quantidades pequenas não cause reações alérgicas?
- Você ou seu filho tem desejo de consumir alimentos que contenha amendoim?
Encontre o melhor caminho para tratar a sua alergia.
Não há um tratamento que seja o melhor para todos os pacientes. Com a auxílio de um alergista com expertise na área e que possa acolher e compreender as suas prioridades, é possível viver com muito mais segurança, liberdade e qualidade de vida.
Se você tem alergia ao amendoim e deseja avaliar a possibilidade de tratamento, agende sua consulta aqui.