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Alergia ao Trigo

A alergia ao trigo é uma condição que pode trazer desafios importantes para o dia a dia, mas com o diagnóstico correto e um plano de cuidado individualizado é possível viver com mais segurança, liberdade e qualidade de vida. Neste texto, você vai entender como reconhecer os sintomas, quais são as formas de apresentação mais comuns, como funciona o tratamento e quais estratégias podem ajudar a conviver melhor com essa condição.

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Alergia ao trigo, doença celíaca ou sensibilidade ao glúten não celíaca?


O trigo é um dos grãos mais consumidos no mundo e também uma das causas mais comuns de reações adversas relacionadas à alimentação.


É fundamental diferenciar três condições distintas:


  • Alergia ao trigo: reação alérgica ao trigo, que pode ser mediada por IgE ou, em alguns casos, não-IgE (exemplo, esofagite eosinofílica). Na alergia IgE mediada, pode ocorrer urticária (vermelhidão), angioedema (inchaço), sintomas respiratórios, gastrointestinais e até anafilaxia.


  • Doença celíaca: doença autoimune, desencadeada pelo glúten do trigo, cevada e centeio, que causa inflamação crônica da mucosa intestinal e má absorção. O diagnóstico é baseado em sorologia (anti-transglutaminase, anti-endomísio) e biópsia intestinal.


  • Sensibilidade ao glúten não-celíaca: condição caracterizada por sintomas intestinais, como dor abdominal, distensão abdominal, e em algumas vezes, associado a sintomas extraintestinais, mas sem evidência de autoimunidade ou alergia IgE-mediada. É um diagnóstico de exclusão. É necessário ter cautela nesse diagnóstico já que a dieta pode melhorar pela redução de oligossacarídeos presentes no trigo (que causam fermentação), do que propriamente pela retirada do glúten.


Diferenciar essas condições é essencial, pois os mecanismos, o prognóstico e o tratamento são distintos.


Diagnóstico da Alergia ao Trigo


Avaliação clínica

A história clínica detalhada é fundamental e deve ser avaliado aspectos como: o tempo entre ingestão/inalação e o início dos sintomas, a manifestação clínica, duração e a reprodutibilidade das reações.


Exames

  • Teste cutâneo (prick test) com extrato de trigo.

  • Dosagem de IgE sérica específica para proteínas do trigo. Em alguns casos, pode ser dosado componentes como a omega-5-gliadina.

  • Teste de provocação oral (TPO): pode ser indicada em casos quando há dúvida no diagnóstico ou na avaliação de tolerância.


Formas de apresentação específicas

  • Alergia IgE mediada clássica: pode ocorrer urticária (manchas/placas avermelhadas), angioedema (inchaço), sintomas respiratórios, gastrointestinais e até anafilaxia. Esses sintomas ocorrem em até 2 horas do contato com o alimento com trigo e duram poucas horas.


  • Asma do padeiro: manifestação ocupacional decorrente da inalação crônica de proteínas do trigo e do pó de farinha em panificadoras e moinhos por profissionais que manipulam os ingredientes. Causa rinite, conjuntivite e asma, com risco de evolução para sensibilização sistêmica.


  • Anafilaxia induzida por exercício dependente do alimento (AIEDA): ocorre quando o consumo de trigo é associado a um cofator, tipicamente atividade física (porém pode ser outros fatores como consumo de álcool), geralmente em poucas horas após a ingestão. O esforço físico atua como cofator, facilitando a absorção das proteínas do trigo e desencadeando anafilaxia. Pode ser grave e, muitas vezes, subdiagnosticada.


  • Formas não-IgE-mediadas: incluem gastroenteropatias induzidas por proteínas do trigo e a esofagite eosinofílica.



Prognóstico: a Alergia ao Trigo pode desaparecer?

Na infância, há chance considerável de resolução espontânea: cerca de 60–70% das crianças evoluem com tolerância da alergia até a adolescência. Quando inicia na idade adulta — especialmente nos casos ocupacionais ou na AIEDA — tende a ser persistente.



Reatividade Cruzada: outros grãos?

Pacientes com alergia ao trigo podem reagir tanto a proteínas exclusivas do trigo quanto a proteínas que apresentam semelhança com as de outros grãos, ou seja, podem ser alérgico a apenas trigo ou podem ser alérgicos também a outros grãos. A reatividade cruzada ocorre principalmente com centeio e cevada, já que suas prolaminas — trigo (omega-5-gliadina), centeio (secalinas) e cevada (hordeínas) — possuem estruturas bastante semelhantes.


Tratamento da Alergia ao Trigo


Dieta de exclusão e plano de ação

Essa abordagem de tratamento é indicada inicialmente para todos os pacientes e envolve compreender como fazer restrição para trazer segurança e ter um plano de ação caso ocorra reação alérgica por contato acidental.

Fique atentos a alimentos como:


Trigo: como ingrediente principal
  • Pães, torradas, bolos, biscoitos, bolachas

  • Massas (macarrão, pizza, lasanha, nhoque de farinha de trigo)

  • Tortas, salgados de padaria

  • Farinha de trigo e derivados (semolina, trigo integral, trigo duro, espelta, kamut, cuscuz de trigo, tabule, quibe)


Trigo: como aditivo ou espessante
  • Molhos prontos (molho de soja tradicional, shoyu comum, molhos espessados)

  • Sopas instantâneas, caldos de cubo e temperos industrializados

  • Embutidos (salsicha, linguiça, hambúrguer, nuggets, frios que podem usar farinha como aglutinante)

  • Sorvetes, sobremesas industrializadas

  • Chocolates e balas que usam trigo como espessante


Bebidas e fermentados (em pacientes alérgicos ao glúten)
  • Cerveja, chope, whisky de trigo/cevada

  • Alguns destilados e vinagres de malte


Produtos não alimentares (risco de contato ou ingestão acidental em crianças)
  • Massinha de modelar

  • Cosméticos (batons, hidratantes, shampoos que podem conter derivados de trigo

  • Suplementos alimentares (proteínas vegetais hidrolisadas de trigo)


Saiba mais sobre essa estratégia de tratamento aqui.


O impacto em qualidade de vida nessa estratégia terapêutica varia de cada paciente e potencialmente pode impactar mais quando há outras alergias ou restrições alimentares associadas, experiências prévias com reações graves, necessidade restrições rigorosas, especialmente em casos em que há reação com contato por quantidades pequenas e antecedente de quadros associados de depressão, ansiedade e seletividade alimentar.


Imunoterapia para alergia ao trigo

A imunoterapia oral é uma das estratégia que visa melhorar qualidade de vida quando a alergia ao trigo impacta em questões psico-emocionais e restrições sociais. Entenda aqui sobre esse tratamento. Um dos principais pontos importantes na decisão de se fazer imunoterapia ou não e qual via fazer está relacionada a quais são as prioridades do paciente e sua família: segurança, diversidade alimentar e impacto em qualidade de vida.


Imunobiológico

Um dos tratamentos medicamentoso estudados para tratamento de alergia alimentar tem como alvo a imunoglobulina E (IgE) que é importante para desencadear a reação na alergia alimentar. Um estudo de 2024 publicado na New England Journal of Medicine mostrou que uso de essa medicação aumentou o limiar de reação em uma parcela significativa de pacientes com alergia alimentar, ou seja, aumentou a quantidade mínima de proteína alimentar que desencadeia reação alérgica. Isso permite que pacientes tenham mais segurança, reduzindo o risco de reação alérgica em contato acidental com quantidades pequenas. Além disso uso, essa medicação pode ser usada em conjunto com a imunoterapia oral, reduzindo o risco de reação alérgica.


Passos importantes

  1. Diagnóstico preciso

  2. Avaliação de reatividade cruzada: entenda se há necessidade ou não de exclusão de outros alimentos

  3. Tratamento individualizado.

    Para a escolha do tratamento, reflita:

    - Você procura melhorar a segurança e diminuir risco de reações graves?

    - A alergia ao trigo está impactando em qualidade de vida?

    - Por que a alergia ao trigo está impactando em qualidade de vida?

         - Restrição ao trigo limita questões sociais (ir festa de aniversário, viagem, restaurantes)?

         - Essa restrição está impactando em questões psico-emocionais?

    - Você procura aumentar o limiar de reação para que o contato com quantidades pequenas não cause reações alérgicas?

    - Você ou seu filho tem desejo de consumir alimentos que contenha trigo?


Encontre o melhor caminho para tratar a sua alergia.

Não há um tratamento que seja o melhor para todos os pacientes. Com a auxílio de um alergista com expertise na área e que possa acolher e compreender as suas prioridades, é possível viver com muito mais segurança, liberdade e qualidade de vida.


Se você tem alergia ao trigo e deseja avaliar a possibilidade de tratamento, agende sua consulta aqui.

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Sobre a autora

Dra Claudia Leiko Yonekura Anagusko
CRM-SP: 163184, RQE 75918

É médica alergista, colaboradora do ambulatório de esofagite eosinofílica, dermatite atópica e alergia alimentar do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP

Possui pesquisa na área de esofagite eosinofílica, alergia alimentar e imunoterapia oral para alergia alimentar.

Autora do capítulo Imunoterapia oral e risco de EoE, do livro Esofagite Eosinofílica, série Alergia e Imunologia - ASBAI. ​​

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