Esofagite eosinofílica: a conexão com os alimentos e a dieta
- Dra Claudia Leiko
- 26 de ago. de 2024
- 3 min de leitura
Você sabia que os alimentos que mais dão sintomas na hora da refeição geralmente não são os culpados pela inflamação no esôfago?
Entenda como os sintomas podem estar relacionados com os alimentos, quais são os alimentos mais envolvidos e o papel da dieta no tratamento da esofagite eosinofílica
Há 4 pontos de conexão dos alimentos com a esofagite eosinofílica:
1.Componente mecânico
A inflamação da esofagite eosinofílica leva a um edema ("inchaço") e/ou estenose do esôfago o que acarreta em estreitamento na passagem dos alimentos. Esse estreitamento causa sintomas como a sensação de dificuldade da passagem dos alimentos após a deglutição, engasgo, o "entalo" e principalmente em crianças, pode levar aos vômitos. Esses sintomas são piores com alimentos maiores e com tendência a impactar mais nessas áreas de estreitamento, como carne e pão. Nesse caso, esses alimentos não estão necessariamente causando a inflamação, mas a passagem mecânica pelo esôfago é mais difícil pelo calibre do esôfago.

Com o tempo, quem tem esofagite eosinofílica pode desenvolver mecanismos compensatórios para tornar a deglutição mais confortável: cortar alimentos pequenos, comer bebendo líquidos, preferência por alimentos mais pastosos.
Em alguns casos, o estreitamento pode ser tão importante que o alimento não desce e pode levar o paciente a procurar atendimento médico para a retirada do alimento.
2. Os alimentos causando a esofagite eosinofílica
O principal causador da inflamação no esôfago são os alimentos, apesar de uma parcela dos casos serem causados por outros alérgenos. Esssa inflamação ocorre em pacientes com predisposição genética a desenvolver inflamação do tipo alérgica (T2) e com alterações na barreira esofágica, associada a um ambiente que propicia o desenvolvimento da doença.
Acredita-se que cerca de 90% dos casos a inflamação seja causada por alimentos pois há melhora completa da doença quando se realiza dieta elementar. Atualmente, a dieta é uma das opções de primeira linha para tratamento da esofagite eosinofílica. Existem diversos tipos de dieta (dieta elementar, dieta empírica e dieta baseada em testes). Caso a opção de tratamento para a esofagite eosinofilica seja dieta, o tipo de será escolhido baseando em quadro clínico, questões nutricionais, estilo de vida e preferências dos pacientes. Toda dieta para tratamento da esofagite eosinofílica deverá ser indicada pelo especialista, já que é necessária avaliação do diagnóstico do alimento causador, acompanhamento do controle da doença, suporte nutricional e manejo de possíveis consequencias da dieta, como o risco de reação alérgica IgE mediada na reintrodução de alimentos em pacientes previamente sensibilizados.

3. Predisposição a alergia alimentar IgE mediada
A esofagite eosinofílica não é mediada por anticorpos IgE e não causa anafilaxia. Porém, acredita-se que a alteração de barreira esofágica presente na doença possa predispor alergia alimentar IgE mediada.
Estudos mostram:
-A esofagite eosinofílica é 100 vezes mais comum em pacientes com alergia alimentar IgE mediada do que na população geral (0,04%x 4,7%).
-Alta frequencia de eosinofilia esofágica em pacientes com histórico de anafilaxia ao leite (38%) e amendoim (14%)
4. Síndrome FIRE
A Síndrome FIRE (Food-Induced Immediate Response of the Esophagus) foi descrita em 2020 e consiste nos seguintes sintomas:
1.Sintomas de sensação retroesternal desagradável ou dolorosa
2.Sintomas ocorrendo imediatamente e de forma reprodutível após contato da superfície do esôfago com um alimento ou bebida específica
3.Sintomas aparecem separadamente e de forma não relacionada a dificuldade de deglutir característica da EoE (disfagia ou impactação alimentar)
*Exclusão de sintomas associado a disfagia para alimentos sólidos, secos ou fibrosos ou sintomas relacionados a refluxo gastroesofágicos
Características
- Sintomas são descritos como estreitamento, pressão, queimação, sensação de sufocamento, ansiedade
- Sintomas de intensidade forte, apesar de ser limitado em relação ao tempo
- Sintomas retroesternal estritamente ligados à ingestão de um determinado alimento ou bebida, geralmente aparecendo logo após a exposição com período de latência inferior a 5 minutos com duração limitada, pois a maioria dos pacientes percebe os sintomas por menos de 30 minutos
Principais alimentos gatilhos
-Frutas, vegetais, castanhas, bebidas como vinho e cerveja, peixe
Referências
1 Votto M,. Diet Therapy in Eosinophilic Esophagitis. Focus on a Personalized Approach. Front Pediatr. 2022 Jan
2. Arias A. Efficacy of dietary interventions for inducing histologic remission in patients with eosinophilic esophagitis: a systematic review and meta-analysis. Gastroenterology. (2014)
3.vBarbosa AC, Castro FM, Meireles PR, et al. Eosinophilic esophagitis: latent disease in patients with anaphylactic reaction to cow’s milk. J AllergyClin Immunol Pract. 2017.
4. Wright BL, Fernandez-Becker NQ, Kambham N, et al. Baseline gastrointestinal eosinophilia is common in oral immunotherapy subjects withIgE-mediated peanut allergy. Front Immunol. 2018;9:2624. doi:10.3389/fimmu.2018.02624
5. Biedermann L, Holbreich M, Atkins D, et al. Food-induced immediate response of the esophagus-a newly identified syndrome in patients with eosinophilic esophagitis. Allergy. 2021; 76: 339-347.
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